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Plágio por Marialva Barbosa


Apresento a seguir um quadro comparativo entre os dois textos. Na primeira coluna, reproduzo trechos do meu artigo que foi plagiado pela professora (Mauro Porto, "Televisão, audiências e hegemonia: notas para um modelo alternativo na pesquisa de recepção", Comunicação & Política, Vol. III, n. 3, setembro-dezembro, 1996, pp. 120-145). Na segunda coluna, reproduzo trechos do texto plagiador da professora Marialva Barbosa ("Estudos de recepção ou como completar o circuito da comunicação", Ciberlegenda, n. 1, 1998). A comparação não deixa dúvidas quanto ao delito.

Clique aqui para conhecer a sentença judicial sobre o caso.

Texto de Mauro Porto (1996) Texto de Marialva Barbosa (1998)
"A partir de pesquisas realizadas com metodologias qualitativas, basicamente etnográficas, os programas de televisão têm sido vistos como produtos culturais polissêmicos, cujo conteúdo é 'resistido' através de diferentes decodificações, ressaltando-se assim a autonomia e o poder da audiência em exercer controle sobre as mensagens televisivas" (p. 121). "A partir de pesquisas de natureza qualitativa e basicamente etnográficas, esses trabalhos enfocaram preferencialmente a produção televisiva. Os programas passaram a ser percebidos como produtos culturais polissêmicos, que ofereciam ao espectador uma gama de diferentes decodificações, ressaltando-se, pois, a idéia de autonomia e poder da audiência em exercer controle sobre as mensagens televisisivas".
"O pessimismo dos frankfurtianos e a rigidez dos 'aparelhos ideológicos de Estado' de Althusser contribuíram para que, até a década de 70, a pesquisa crítica em comunicação considerasse como um dado da realidade o poder dos mídia e pouca preocupação manifestasse com relação à audiência" (p. 122). "O pessimismo dos frankfurtianos e a rigidez do conceito de "aparelhos ideológicos do Estado" de Althusser foram marcos decisivos para que, até a década de 70, a pesquisa crítica em comunicação se concentrasse na questão inequívoca do poder dos mídias e pouco se preocupasse com a audiência".
"Outro revezamento importante estabelecido na teoria da comunicação diz respeito à ênfase ora na mensagem, ora nos atos discursivos da sua leitura. No paradigma tradicional, o modelo emissor-mensagem-receptor estava centrado no plano da mensagem e pressupunha que a sua condução pelos mídia teria um efeito imediato nos receptores. A partir da década de 70, principalmente devido à influência do estruturalismo semiológico-linguístico de origem européia, passou-se a enfatizar os atos de leitura das mensagens (…) A relação entre emissor e receptor passa a ser vista como uma relação simbólica que se realiza através de operações discursivas. Entretanto, esta perspectivas teórica não gerou uma tradição de pesquisas de recepção. Serão os estudos culturais ingleses que constituirão o referencial teórico mais importante no desenvolvimento das pesquisas de recepção" (p. 122-123). "Outro ponto a que devemos nos referir é a forma como se considerava conceitualmente a leitura. Enquanto no paradigma tradicional, o modelo emisor-mensagem-receptor estava centrado na própria mensagem, tendo um efeito imediato - através da ação mediática - sobre os receptores, a partir da década de 70, em função do estruturalismo semiológico-lingüístico de origem européia , passou-se a enfatizar a compreensão das mensagens, ou seja, o ato de leitura. A relação emissor-receptor passa a ser vista como simbólica e se realizando através de operações discursivas. Mas não se pode dizer que essa perspectiva teórica tenha gerado pesquisas de recepção. Na verdade, serão os estudos culturais ingleses que se constituirão no referencial mais importante para o desenvolvimento dessas pesquisas".
"Os estudos culturais ingleses (principalmente a partir do modelo encoding-decoding de Stuart Hall), contribuíram para enriquecer a compreensão do processo de comunicação ao reconhecer que, apesar da predominância das 'leituras preferenciais' construídas no texto, a audiência pode decodificar a mensagem da televisão de forma negociada ou oposicional. A partir destes e outros estudos teóricos, desenvolveu-se uma tradição de estudos que enfatiza o poder da audiência em produzir significados a partir da mensagem televisiva" (p. 123). "Passou-se, pois, a reconhecer que apesar de "leituras preferenciais" construídas no texto, a audiência ou o público pode decodificar a mensagem de forma negociada ou mesmo de forma oposta. Ou seja, enfatiza-se o poder da audiência em produzir significados".
"No caso específico das telenovelas, as pesquisas de recepção têm ressaltado a influência das seguintes variáveis na recepção: contexto familiar (Gonzalez, 1993; Alvarado, 1993); características dos receptores como gênero, idade e classe social (Bustos-Romero, 1993); diferenças de classe, a partir principalmente da noção de 'capital cultural' de Bourdieu (Leal, 1986; Vink, 1990); contexto sócio-cultural do processo comunicativo (Tufte, 1993); identidade cultural de populações rurais (Jacks & Ronsini, 1995)" (p. 123). "Um dos temas preferenciais dessas pesquisas tem sido, sem dúvida, as telenovelas. Mas cada análise se insere em variadas influências teóricas, tais como, a primazia do contexto familiar (González); as características dos receptores como gênero, idade e grupo social (Bustos-Romero); as diferenças de classe, sobretudo a partir da noção de "capital cultural" de Bourdieu (Leal); o contexto sócio-cultural do processo comunicativo (Tuffe); a identidade cultural das populações rurais (Jacks & Rosini)".
"Segundo Orozco, o 'paradigma crítico' da pesquisa de audiência tem como característica o estudo sistemático dos processos de percepção, negociação, apropriação/resistência dos diversos segmentos da audiência, fundamentalmente com metodologias qualitativas (entrevistas de profundidade, histórias de vida, observação etnográfica, etc) (Orozco, 1992, p. 94). Orozco tem argumentado que é na recepção, e não na emissão, onde se produz a comunicação" (p. 124). "Segundo Orozco Gomes, o que caracteriza esses estudos é a reflexão sistemática sobre os processos de percepção, negociação, apropriação/resistência dos diversos segmentos da audiência, utilizando, para isso, do ponto de vista metodológico, uma análise qualitativa (entrevistas de profundidade, histórias de vida, observação etnográfica, etc). Para Orozco é na recepção e não na emissão que se produz a comunicação".
"Em seu importante livro sobre as mediações no processo de comunicação (Martin-Barbero, 1991), ressalta a partir do conceito gramsciano de hegemonia que os dispositivos de mediação dos mídia estão ligados estruturalmente aos movimentos que articulam na legitimidade a cultura: uma mediação que encobre os conflitos entre as classes, produzindo sua solução no imaginário e assegurando assim o consentimento ativo dos dominados (p. 135). Ainda que reconheça o papel ativo da audiência, Martin-Barbero não abondana a necessidade de se considerar o papel da televisão na constituição da hegemonia" (p. 124). "Já Jesus Martin-Barbero, em seu clássico estudo sobre as mediações do processo de comunicação, a partir do conceito gramsciniano de hegemonia, destaca que os dispositivos de mediação dos mídia estão ligados estruturalmente aos movimentos que articulam a cultura: uma mediação que encobre os conflitos entre as classes, produzindo sua solução no imaginário e assegurando, assim, o consentimento ativo dos dominados. Embora reconheça o papel ativo da audiência, Barbero não abandona a idéia da preponderância da televisão na constituição da hegemonia".
"Isto fica claro em um projeto de investigação sobre a telenovela colombiana (Martin-Barbero, 1987), onde o autor ressalta que a televisão só funciona na medida em que assume e legitima as demandas que vêem dos receptores, mas que não pode legitimar estas demandas sem 're-significá-las' em função do discurso social hegemônico (p. 49)". (pp. 124-125). "O pesquisador chega a afirmar que a televisão só funciona na medida em que assume e legitima as demandas que vêem dos receptores. Para legitimar essas demandas, deve "re-significá-las", levando em conta um discurso social hegemônico".
"Também Martin-Barbero (1995) alerta para as tentações propiciadas pelos estudos de recepção. Primeiro, o perigo do idealismo de crer que o leitor faz o que lhe der vontade (…) A segunda ameaça é o perigo de desligar o estudo de recepção dos processos de produção, desconsiderando-se a concentração econômica dos meios e a reorganização do poder ideológico da hegemonia política e cultural" (p. 125). "Barbero também alerta para um tipo de idealização perigosa: a crença de que o leitor faz o que lhe der vontade. Ao mesmo tempo, segundo o pesquisador, há o perigo de desligar os estudos de recepção dos processos de produção, desconsiderando-se, por exemplo, a concentração econômica dos meios e a reorganização do poder ideológico da hegemonia política e cultural"
"O método etnográfico, amplamente utilizado, raramente é definido (…) Além disso, a utilização de metodologia etnográficas nos estudos de comunicação deturpa o sentido original que elas adquiriram no campo da antropologia" (p. 126). "É desse lugar metodológico que provém outra das principais críticas que os estudos de recepção recebem: adotar como premissa o método etnográfico, mas quase sempre raramente definido (observação etnográfica e metodologia qualitativa), e falho do ponto de vista da coleta e interpretação dos dados, deturpando, muitas vezes, o sentido que adquiriu nos estudos antropológicos".
"Morley (1992) mostra como, no uso antropológico, etnografia significa um relato escrito de uma longa interação social entre o pesquisador e a cultura a ser estudada. Entretanto, os estudos de comunicação têm lugar em esferas circunscritas, geralmente analisando a interpretação de um único meio, gênero ou programa. A conseqüência é a reificação, ou desconsideração, de outros determinantes culturais além daquele destacado pelo pesquisador (p. 196).

O estudo qualitativo de pequenos grupos de indivíduos, desvinculados de um contexto político e social mais amplo, gera um atomismo metodológico com importantes implicações" (p. 126).

"Uma abordagem etnográfica do ponto de vista antropológico é o resultado de uma longa interação social entre o pesquisador e a cultura a ser estudada. Mas normalmente ao eleger o método, os estudos de recepção escolhem um único meio, gênero ou programa e procura analisá-lo e interpretá-lo. O resultado é a reificação ou desconsideração de outros determinantes culturais, além daqueles destacados pelo pesquisador".

Por outro lado, o estudo qualitativo de pequenos grupos, desvinculado do contexto político e social mais amplo (indivíduos sem história), pode produzir uma atomização metodológica".

"A abordagem microssociológica das pesquisas de recepção tem duas conseqüências principais: a) a tendência a produzir um discurso universalista e ahistórico devido ao predomínio de dimensões psicológicas ou subjetivas; b) não se origina teoria, pois não se opera no nível macro (Lopes, 1995, p. 108).

Ao se trabalhar com pequenos grupos, logo surge o problema da capacidade de generalização dos resultados da pesquisa. Como chegar a conclusões sobre o comportamento da audiência' a partir de dados coletados de um numero extremamente reduzido de entrevistas" (p.126)

"Observa-se ainda uma tendência à abordagem microsociológica, o que produz um discurso universalista e, sobretudo, ahistórico, devido a ênfase que se dá às dimensões psicológicas ou subjetivas. A segunda conseqüência desastrosa advinda deste tipo de olhar é não construir uma teoria, já que não opera a nível macro.

Ao se trabalhar com pequenos grupos, não se pode generalizar os resultados da pesquisa e nunca se chega a conclusões sobre o comportamento da audiência".

"Um exemplo importante é o conceito de classe social, cujo tratamento pelo modelo das mediações tem uma clara semelhança com o paradigma funcionalista; confunde-se classe com estratificação social" (p. 135). "A outra crítica é a forma como trabalham com a noção de classes sociais, muitas vezes ausente ou sendo, com freqüência, substituida pela noção de estratificação social, de clara tendência funcionalista".
"… apesar do texto não ser garantia de significado, as interpretações não são arbitrárias, pois estão sujeitas às limitações contidas no próprio texto.
(…)
A autora propõe em lugar de polissemia o termo polivalência, onde a instabilidade nas conotações exige que os espectadores julguem os textos a partir de seus próprios sistemas de valores (pp. 430-431)" (p. 128).
"A segunda observação diz respeito à questão da interpretação. É preciso ter em mente que as interpretações não são arbitrárias, estando sujeitas às limitações contidas no próprio texto. Esse é um fator que impõe limites à chamada polissemia da mensagem. Para alguns autores, ao invés do conceito polissemia do texto, deve-se empregar polivalência, já que a instabilidade nas conotações exige que os espectadores julguem os textos a partir de seus próprios sistemas de valores".
"Para a superação das debilidades teóricas das pesquisas de recepção é importante um 'retorno' ao conceito de hegemonia (…) Isso permitiria aos estudos de recepção refrear sua desvinculação do contexto político e social mais amplo, considerando o poder das televisões na constituição, reforço ou mudança de valores políticos hegemônicos" (p. 130). "Assim, para que os estudos de recepção tenham, de fato, uma consistência teórica e metodológica é fundamental que considere a questão da hegemonia como central. Dessa forma haverá uma vinculação ao contexto político e social e a visualização do papel dos meios de comunicação na constituição, reforço ou mudança de valores políticos hegemônicos".
"Portanto, o conceito de hegemonia não só considera a resistência dos indivíduos ou grupos, mas afirma que esta resistência é parte constitutiva do processo político e cultural (…) não há nenhuma incompatibilidade entre a noção da hegemonia e o reconhecimento do papel ativo dos receptores, ao contrário do que as pesquisas de recepção sugerem" (p. 131). "E preciso entender também que o conceito gramsciano de hegemonia, na sua complexa teorização sobre o Estado (Teoria ampliada de Estado), pressupõe a contra-hegemonia e, assim, a própria noção de resistência é parte constitutiva do processo político e cultural. Não há, pois, incompatibilidade em reconhecer a noção de poder e hegemonia, no sentido gramsciniano, e, ao mesmo tempo, o papel ativo dos receptores".
"O novo modelo afirma que os momentos da codificação da mensagem pelos meios de comunicação e os de sua decodificação pela audiência não são necessariamente equivalentes. Ou seja, uma mensagem codificada pelo emissor com um determinado significado pode ser decodificada com um sentido diferente e/ou oposto pelo receptor. Todavia, apesar da possibilidade de diferentes decodificações, um certo tipo de 'leitura' tende a predominar. As diferentes áreas da vida social são hierarquicamente organizadas no domínio discursivo a partir de significados dominantes ou preferenciais. Esses significados são dominantes e não determinados porque sempre é possível ordenar, classificar e decodificar um evento de diversas formas. Contudo, são dominantes, porque existe um padrão de leituras preferenciais, no qual está inserida toda a ordem institucional, política e ideológica (p. 134)" (pp. 131-132). "Outra diretriz fundamental é a percepção de que os momentos de codificação da mensagem pelos meios de comunicação e os de sua decodificação pela audiência não são necessariamente equivalentes. Uma mensagem codificada pelo emissor com um determinado significado pode ser decodificada em sentido diferente ou oposto pelo receptor. Mas apesar dessa apropriação diferenciada, um tipo de leitura particular tende a predominar. Isso porque, a vida social é organizada de maneira hierárquica a partir de significados dominantes ou preferenciais dos discursos. Assim, pode-se ordenar, classificar e decodificar um evento de diversas formas, embora exista um padrão de leitura preferencial que está inscrito em toda a ordem institucional, política e ideológica".
"Não se considera, assim, o fato de que os vários significados de um texto muitas vezes escapam à consciência do próprio autor. Haveria, portanto, uma ambigüidade entre o significado do texto e a intenção do autor. Isso não significa que a intenção do emissor deixa de ser parte importante do processo de comunicação, porém que o campo da ideologia é mais amplo que o da intencionalidade (Morley, 1992, p. 120)." (p. 132) "Em primeiro lugar, é preciso perceber que, muitas vezes, os vários significados de um texto escapam à consciência do próprio autor. Sendo assim, há uma ambiguidade entre o significado e a intenção do autor. A intencionalidade do emissor é parte importante no processo de comunicação, mas o campo ideológico é mais amplo do que a própria intencionalidade".

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